15 de março de 2013

José Anastácio da Cunha. Os Porquês do Amor...

José Anastácio da Cunha, poeta integrado no pré-romantismo português, deixou uma valiosa obra poética inédita, com poemas de amor impregnados de sentimento e sensualidade. Todos escritos para sua amante Margarida (Marfisa), a quem amou apaixonadamente, constituem uma preciosidade enquanto expressão do amor sensual numa fase da literatura e da vida social nas quais os arroubos carnais eram, ainda, considerados um tabu, rompido pelos poetas pré-românticos, especialmente pelos que não escreviam seus poemas para serem publicados. Com efeito, o volume manuscrito dos versos do poeta José Anastácio da Cunha só ficaram conhecidos muitos anos após a sua morte, graças ao poeta Almeida Garrett que o encontrou e, maravilhado com a qualidade da coletânea, providenciou a sua publicação no ano de 1839. Este poeta não foi o único a deixar sua obra poética  manuscrita e, portanto, desconhecida pelos seus contemporâneos. Justifica tal atitude o fato de não serem os poetas vistos com bons olhos na sociedade do seu tempo. Talvez por ser lente na Universidade de Coimbra, onde lecionava matemática, o poeta tenha evitado aparecer como tal, especialmente devido ao teor confessional e a intensidade erótica das suas poesias de amor.


                                       Os Porquês do Amor "

   José Anastácio da Cunha
1744 -1787

 Céu, porque tão convulso e consternado
Me bate, ao Vê-la, o coração no peito?
Porque pasma entre os beiços congelado,
Indo a falar-lhe, o tímido conceito?

Porque nas áureas ondas engolfado
Da caudalosa trança, inda que afeito,
Me naufraga o juízo embelezado,
E em ternura suavíssima desfeito?

Porque a luz dos seus olhos, tão ativa,
Por lânguida inda mais encantadora,
Me cega, e por a ver, ansioso, clamo?

Porque da mão nevada sai tão viva
Chama, que me eletriza e me devora?
Os mesmos meus porquês me dizem: - Amo!

in
"Os Mais Belos Sonetos que o Amor Inspirou"
J.G . de Araujo Jorge - 1a edição - 1963


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